sábado, 26 de setembro de 2009


Há algum tempo gráficas descaracterizaram sua atividade-fim, fazendo-se de "agências" cujo quadro "criativo"se formou no manuseio talentoso do coreldraw 10. Há algum tempo agências descartaram desenhistas, ilustradores, layout-men, entre outros seres brilhantes com lápis e papel na mão para distribuir serviços gerais de comunicação visual entre crescidos mestres de coreldraw14 e recém formados graduados em publicidade, de precários cursos oferecidos em instituições predominantemente particulares.

É fruto dessa licença danosa, consagrada por uma certa negligência geral na área, os seguintes produtos, pra citar alguns: logotipos feitos em um dia, com evidentes impropriedades de representação e cheios de restrições; desenhos e ilustrações de forte amadorismo e no mais puro "quebra-galho"; indiferenciação entre a particularidade de um material que deve ser impresso e a de um outro que será virtual/digital; abuso de figuras, estilos, personagens, conceitos, etc. de propriedade alheia, num procedimento que tem na varredura de Google Images seu primeiro mandamento.

Sobre o ultimo destes produtos citados, São Carlos conheceu uma novidade este último mês. Ela já vem tarde, é fato, mas cabe a nós, profissionais na luta diária por uma postura responsável no setor, torná-la de conhecimento do maior número de pessoas possível. Acreditamos que nossa atividade só será assimilada como séria quando seus problemas se tornarem públicos e forem discutidos.

Uma empresa montou, para um cliente de renome na cidade, uma "arte" para publicação em veículo especializado de ampla circulação, utilizando, entre outras coisas de péssima escolha, uma foto de propriedade alheia. Até aí tudo sem problemas,  já que, como observamos, é uma prática comum, que vai além de São Carlos. Porém chega um dia que o mundo calha de ser pequeno e o esquemão vem  abaixo. No mesmo veículo, um impresso, o autor proprietário da imagem havia feito um anúncio seu, e viu lá, no anúncio feito para o cliente daqui, sua foto ancorando toda propaganda. Resultado: um penalização na casa dos milhares, que tanto a empresa quanto o cliente tenta tirar de sua responsabilidade, empurrando um para o outro.

Os  pormenores do caso trazem informações mais interessantes. Pra começar, a empresa que "tem a conta" do cliente é cortez em termos de criação, cobra o que imprime, a arte é brinde. Aí já se vê a pobre preocupação das partes e o elo frágil de comprometimento, o procedimento falho. Faz o que não deveria, e não faz direito. O funcionário específico montador da tal peça, mesmo formado, com experiência e passagens em outras equipes de criação, coagido pela situação, demonstra total ignorância quanto as regras de direitos autorais. Por sua vez, o responsável pela aprovação, vamos chamá-lo de um gestor da imagem do cliente, também publicitário, também não cogita sobre a liberdade de uso da foto aplicada, bate seu carimbo e aprova. Uma cadeia de negligências, incapacidades, falhas, vícios, etc.

Não mencionamos os nomes aqui, dos envolvidos, por questões éticas, mas principalmente porque isso é o que menos importa em face dessa lógica estabelecida. A lógica do auto-engano, do serviço mediano, que estaciona uma cidade, que se promove como avançada, tecnológica e ilustre, na repetição do erro. É dela que falamos, sobre ela que alertamos, contra ela nos posicionamos,certos de que não será cutucando a reputação de fulano, beltrano que ela perderá força. Afinal, comodidade e gastos enxutos são sua  atratividade. O resto é torcida para que o esquema não seja pego.

Se está feita a trapalhada, dessa vez com prejuízo no bolso, saibam que ele  sempre está alí, a espreita para atacar, quando a comunicação visual está nas garras desses personagens e, do outro lado, estão profissionais sérios, ciosos de sua produção, que sabem cobrar e executar contratos. Não passamos uma semana sem topar com materiais duvidosos feito na cidade, que certamente possuem a mesma gravidade, mas infelizmente passam. Bonequinhos de pauzinho “engordados” vendendo calçados, a Disney toda decorando a fachada de escola, Garfield na avenida, Homer Simpson em menu de barzinho, personagens lúdicos de expressão dúbia, logotipos que só faltam cantar, pela quantidade de efeitos, legendas ilegíveis, improvisos emblemáticos de nosso analfabetismo gráfico dominante.

Custa-nos acreditar que um dia a atividade médica tenha dado tanta margem para aventuras de pessoas sem a mínima vocação e compreensão geral da área. Imaginar que um coração doente pode ter sido operado por um qualquer que "manja"de coração, que tem acesso as ferramentas usuais, provisoriamente, beira a irracionalidade. Na nossa área é mais ou menos isso: algo que envolve a saúde visual